terça-feira, 17 de novembro de 2015

NININHA




Nininha. Nininha.  Meio musicado. A última sílaba bem esticada.  

Era assim que a minha mãe me acordava, todos os dias, para eu ir para a escola. Ela vinha pela sala até meu quarto, me fazia um carinho na cabeça e me sacudia, de leve, embora o leve dela fosse meio pesado. Filha de alemã criada em colégio interno não dá moleza.

São sete horas, dizia. Mas já, minha resposta habitual. E  eu me virava para o lado, me enroscava mais ainda debaixo do edredom.

Ela, então, puxava a coberta e calçava minhas meias. Movia minhas pernas para fora da cama. Eu, um zumbi de pijamas.  E me guiava até o banheiro.

E quando eu voltava, a maior cara de sono do mundo porque nunca gostei de acordar cedo, de uniforme, penteada e lavanda passada no pescoço, o café com leite estava na caneca, o pão  quentinho tinha a manteiga derretida e era só eu engolir.  O que dava trabalho, e ela falava anda, come logo.  

Era um ritual que se repetiu do primário – e aqui entrego a minha idade – até o vestibular.  

Nininha. Nininha.  A última sílaba esticada. E esse nunca foi meu apelido, era só o jeito de me despertar.

Ouvi essa voz hoje. Queria que fosse a minha mãe, que de repente o mundo tivesse andado para trás e eu fosse sacudida por ela para sair da cama, ela calçasse minhas meias e a vida entrasse num eixo que se perdeu.

Doze anos que ela se foi. Hoje.  Dezessete de novembro.  

Para homenageá-la, ouvi Outra Vez, com Roberto Carlos, a música favorita dela, que a fazia ficar com os olhos cheios d’água, todos os anos, no especial do fim do ano. E eu ria, dizia que ela era uma boba por chorar com Roberto.

A história se repete. Mas hoje sou eu quem choro.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

POEMINHA BOBO

gosto de você 
só um poço 
um pocinho 
um porquinho 
um potinho 
um danoninho 
um bifinho 

gosto de você 
só bem pouquinho 
uma poeirinha cósmica 
um grãozinho de areia 
um ciliozinho que cai no olho 
um furinho na roupa 
um cheirinho no cangote 

tudo bem pequenininho 
bem devagarzinho 
bem calminho 
com todo cuidadinho 

é assim que gosto de você 
tranquilinho 

às vezes dá uma saudadezinha
que é grandona 
tsunami 
terremoto 

what the hell

agora tá aí 
bem explicadinho 
sem medinho 

gosto de você 
mas é bem pouquinho

ufa.