Sou eu essa aí acima e, segundo a informação do verso da foto, com dez
dias de nascida. Foi feita, então,
descubro agora, em 28 de maio de 1967, um domingo, pelo meu pai, que era
fotógrafo. Devia ser um dia de almoço de família, todos reunidos em volta da mesa comprida.
Eu no colo da minha mãe, Lota, o lugar que eu mais gostava no mundo. Parece que eu tinha acabado de mamar, e dizem que era a outra coisa que
eu mais gostava no mundo. Mas a gente
nunca se lembra dessas coisas.
O ano de 2003 foi o último dia das mães que comemoramos juntas.
Fizemos um almoço na nossa casa e uma surpresa para as duas mães, a
Lota e a minha sogra. Passei dias
dizendo que iria acontecer essa tal surpresa, mas não revelava o que era. Tentava criar, dia a dia, uma expectativa.
Na hora próxima à surpresa, saímos com elas e as levamos ao teatro
do Leblon. A peça era “Uma Noite na Lua”, um texto lindo de João Falcão com
Marco Nanini, que estava sensacional e ganhou todos os prêmios daquele ano.
Lota adorou, se divertiu muito, riu com a aflição do
escritor que não consegue terminar o texto que precisa entregar e é atormentado
pelas lembranças da ex-mulher.
No dia seguinte, Loló, como eu a chamava, me ligou dizendo que aquele tinha sido o melhor dia das mães da
vida dela. Quatro meses depois ela adoeceu e em cinquenta e oito dias se foi.
Se eu soubesse que aquele seria o último ano, teria feito uma
surpresa em todos os anos anteriores. Em todos os meses, talvez todos os dias.
Mas a gente nunca sabe.
Assim, desde 2003, a cada dia das mães me vêm a recordação do
almoço que tivemos, da excitação crescente com a surpresa, do Nanini no
palco, e daí me dá uma pontinha de tristeza. Uma pontinha que às vezes se torna
uma montanha, um Everest.
O dia das mães de 2003 nunca mais vai
se repetir, por mais que o céu esteja de um azul igual ao daquele domingo de
maio doze anos atrás.
Lota faz uma falta
tão grande, tão grande, do tamanho do mundo, como eu dizia que era o tamanho do
meu amor por ela quando era criança. E abria os braços para deixar bem claro.
Disso eu me lembro bem.
Lindo texto...
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