domingo, 10 de maio de 2015

DIA DAS MÃES




Sou eu essa aí acima e, segundo a informação do verso da foto, com dez dias de nascida.  Foi feita, então, descubro agora, em 28 de maio de 1967, um domingo, pelo meu pai, que era fotógrafo. Devia ser um dia de almoço de família, todos reunidos em volta da mesa comprida.

Eu no colo da minha mãe, Lota, o lugar que eu mais gostava no mundo. Parece que eu tinha acabado de mamar, e dizem que era a outra coisa que eu mais gostava no mundo.  Mas a gente nunca se lembra dessas coisas.

O ano de 2003 foi o último dia das mães que comemoramos juntas.

Fizemos um almoço na nossa casa e uma surpresa para as duas mães, a Lota e a minha sogra. Passei  dias dizendo que iria acontecer essa tal surpresa, mas não revelava o que era. Tentava criar, dia a dia, uma expectativa.

Na hora próxima à surpresa, saímos com elas e as levamos ao teatro do Leblon. A peça era “Uma Noite na Lua”, um texto lindo de João Falcão com Marco Nanini, que estava sensacional e ganhou todos os prêmios daquele ano.

Lota adorou, se divertiu muito, riu com a aflição do escritor que não consegue terminar o texto que precisa entregar e é atormentado pelas lembranças da ex-mulher.

No dia seguinte, Loló, como eu a chamava, me ligou dizendo que  aquele tinha sido o melhor dia das mães da vida dela. Quatro meses depois ela adoeceu e em cinquenta e oito dias se foi.

Se eu soubesse que aquele seria o último ano, teria feito uma surpresa em todos os anos anteriores. Em todos os meses, talvez todos os dias. Mas a gente nunca sabe.

Assim, desde 2003, a cada dia das mães me vêm a recordação do almoço que tivemos, da excitação crescente com a surpresa, do Nanini no palco, e daí me dá uma pontinha de tristeza. Uma pontinha que às vezes se torna uma montanha, um Everest.

O dia das mães de 2003 nunca mais vai se repetir, por mais que o céu esteja de um azul igual ao daquele domingo de maio doze anos atrás.


Lota faz uma falta tão grande, tão grande, do tamanho do mundo, como eu dizia que era o tamanho do meu amor por ela quando era criança. E abria os braços para deixar bem claro.

Disso eu me lembro bem.

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