Cinco e
meia da manhã. Praia da Barra da Tijuca. É a hora que o grupo de ciclistas
chega à Lúcio Costa para treinar para o Iron Man. Cerca de quarenta pessoas
participa e pedala nas praias da Barra e da zona sul, em dias de semana, e se
aventura pela Floresta da Tijuca ou por estradas, aos sábados e domingo.
No horário,
garotas de programa que fazem ponto na Lúcio Costa estão se despedindo da
labuta e tratam os ciclistas com carinho, acenando e falando, voz lânguida: “oi meninos,
tudo bem? Pedalem gostoso”... Outras são menos calorosas e
controlam o horário da turma: “Ei, estão atrasados”...
Um velho
vira lata malhado parece fugir de uma vila remota e de repente aparece na
pista, late e corre atrás das bikes. Um ciclista ou outro dá atenção e o bicho
vai atrás. Todo dia ele faz sempre tudo igual. Depois, cansa e pega o caminho
de volta para casa, rabo entre as pernas.
Na zona
sul, quem chama atenção é um velhinho bem idoso e muito curvado que,
pontualmente às 10 para as 5, passa em frente ao Hotel Praia Ipanema, mal
aguentando o peso do mundo, mas segue andando como lhe é possível.
Os
bêbados no Arpoador são uns bagunceiros. Provavelmente passaram a madrugada
numa mesa de bar, jogando conversa fora, até a hora em que o garçom os
expulsou, para poder tocar a vida e começar – ou acabar -- mais um dia de
trabalho. Volta e meia esses sobreviventes da madrugada resolvem ir atrás
dos ciclistas, para jogar mais conversa fora. Tentam tocar neles. Outro dia um
ciclista mais nervoso ameaçou tirar a sapatilha para bater neles.
Na zona
sul, volta e meia os ciclistas esbarram em carros com meninas que os cortejam,
convidando-os para esticar a noitada, talvez até a hora em que o sol já esteja
a pique. Perdem a cantada, treinar é preciso.
Assim como
os bêbados, alguns moradores da Delfim Moreira são folclóricos. Ficam nas
janelas de seus apartamentos e quando o grupo passa, fazem uma algazarra,
torcem, cantam o jingle do Senna.
Quando o
treino é no Alto da Boa Vista, os bikers param na Mesa do Imperador para uma
sessão de corrida no asfalto, e são os garis que ajudam a tomar conta das
bicicletas.
É claro que um clima tão bacana desses é interrompido pelo trânsito
primitivo que reina na cidade. Vans e ônibus têm o mesmo comportamento estúpido
de sempre: avançam sinal fechado, não dão passagem, correm demais. O que
surpreende é a selvageria de outros veículos, que deveriam zelar pela ordem,
como os ônibus escolares. Os motoristas se irritam quando as bicicletas passam
e têm que parar no sinal para elas. Buzinam, falam mal, ficam apertando a
embreagem e ameaçam avançar. Se pudessem, passariam por cima dos ciclistas.
Respeito ao próximo não é o forte.