Um dos passeios que meu pai gostava de fazer comigo, quando
criança, era nos distritos de Teresópolis, onde morávamos. Não sei como são
hoje essas regiões, mas na época, lá se vão trinta e tantos anos, eram pequenas
vilas agrícolas, com casinhas simples distantes umas das outras, ruas de terra
batida, muito verde e uma igrejinha com o cemitério ao fundo.
Sempre entrávamos nas igrejas, rezávamos e íamos ao cemitério,
andávamos entre as sepulturas, “não pisa nelas porque é desrespeitoso com o morto”,
papai me dizia. E eu as contornava, lia os nomes nas lápides, as frases em
homenagens aos que se foram.
Papai fotografava os cemitérios pequeninos e me ensinou que são
lugares de um silêncio profundo e de paz. Nunca tive medo, sempre me sentia bem
indo com eles a esses passeios, que aconteciam aos domingos pela manhã. E gostava de olhar pelo visor da Rolleiflex dele, entender o ângulo que ele estava buscando, como regulava o diafragma para receber a luz que precisava. Depois, eu ficava no quarto escuro com ele, vendo as imagens serem reveladas e surgirem misteriosamente no papel mergulhado na bandeja de revelador e fixador. Lamento tanto não ter essas fotografias, que se perderam com o tempo.
Esses programas eram feitos sob o céu azul intenso, o verde escuro das árvores colorido pelos raios de sol,
a Mulher de Pedra ao fundo ou outra montanha, dependendo do lugar onde
estivéssemos. Eu, pequena e magrinha, cabelo bem curtinho, com calça jeans boca de sino, bamba e um suéter vermelho de lã com coelhinhos
brancos bordados. Essa é a foto que está no porta retratos das minhas melhores lembranças.
Ontem fui ao cemitério São João Batista para o velório da tiavó,
que partiu às vésperas do aniversário de 96 anos.
Entrei pela alameda principal e andei até o cruzeiro, vendo os
nomes dos desconhecidos que ali estão por toda uma eternidade, calculando as
idades que tinham, lendo as homenagens que foram escritas nas lápides e me
admirando com as esculturas de anjos, lindas, que enfeitam os túmulos dos que
penso ter sido mais endinheirados. Nos pequenos cemitérios atrás das igrejinhas
de Teresópolis, não havia esculturas de mármore. Eram todas muito simples, enfeitadas
com vasos ou canteiros de flores.
Apesar de ser no meio do tumultuado Botafogo, o silêncio profundo
do São João Batista me deu uma paz imensa.
Do cruzeiro, segui por uma rua estreita, tomando cuidado para não pisar
nas sepulturas, como papai havia me ensinado, até chegar a um muro branco cheio
de caixas onde guardam restos mortais. São muitas caixas para formar uma
muralha tão extensa, nunca havia reparado nisso.
O Corcovado, visto daquela perspectiva, com o Cristo abrindo seus
braços e acolhendo a todos, dá uma linda foto. A foto é de Fábio Motta, da Agência Estado.
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