quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MACONDO


Outro dia, fui à minha antiga faculdade. Entrar no prédio da Eco, a Escola de Comunicação da UFRJ, na Praia Vermelha, parece uma viagem sentimental. O piso de tábua corrida continua a ranger como fazia há duas décadas, quando estudei ali e, desconfio, como rilhava desde sua inauguração, no século XIX, como hospício.

Mudança, se houve, foi na área de secretaria, que ganhou algumas divisórias e uma refrigeração mais caprichada. As salas de aula permanecem iguais, as mesmas cadeiras duras com um braço, quadro negro e giz. Não verifiquei os banheiros, mas houve época em que não tinham nem água nem papel.

Aproveitei e passeei no campus. Alguns prédios novos foram erguidos, com vidro fumê e ar condicionado, mas os antigos, tombados, estão firmes e fortes, porém muito pouco conservados, como é característico com o patrimônio histórico aqui no Brasil. A piscina continua vazia e encardida, muito encardida.

Os gatos, que já eram muitos, se multiplicaram. Mas gato é bom, onde há gatos não há ratos, pelo menos não esses que rastejam, roem e entram em buracos mínimos. Com certeza, os ratos de outras espécies bem mais humanas sempre existiram e deverão existir eternamente. Ali,em Brasília e em todo lugar desse muy corrupto país.

O campus é bem arborizado, mas os frutos das árvores se derramam no chão com um odor peculiar de fruta-pão. Sempre foi assim.

No trecho final do campus, que faz fronteira com a rua Lauro Muller, fica o sujinho, bar cujo nome sintetiza seu espírito. As paredes são cobertas com pôsters de bandas e peças teatrais; as mesas, repletas de garrafas de cerveja. Um cheiro de bife e ovo frito no ar. No som, tocava Lulu Santos, com seu sucesso dos anos 80, Garota eu vou pra Califórnia...

O calor terrível desse dia abafado, a música e o perfume típico daquele campus me fizeram lembrar de Macondo, a cidade fictícia de Cem Anos de Solidão, onde sete gerações de uma família vivem uma saga, mas muito pouco muda a história.

A Eco é minha Macondo, um pequeno mundo que muito poucas voltas dá.

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