Parte da minha coleção de X-Files |
Aguardo ansiosamente a volta de X-Files, com uma curiosidade enorme para ver como seguirá no século 21. Afinal, é uma série de fins do século 20, uma época tão antiga que parece que aconteceu há duzentos anos.
X-Files foi ao ar entre 1993 e 2002. Nenhum episódio apresenta terrorismo, islamismo, árabes ou até mesmo chineses, temas chave em 24 Horas, da era pós 11 de setembro, por exemplo.
No universo de X-Files, os inimigos são os extraterrestres, os russos, os conspiradores americanos, e em vários casos, o sobrenatural. E o pai de toda a conspiração é o Cigarette Smoking Man, cuja identidade é revelada temporadas depois da estreia, quando a série estava no auge do sucesso. Só que ele não vai estar na nova versão, pois morreu ao final da última temporada. Não sei o jeito que vão dar. Ando preocupada com isso.
Smoking Man estava por trás de todas as tramas entrelaçadas e o cigarro é a marca do mal. A fumaça expirada pelo Smoking Man é uma projeção de seu próprio caráter: não tem limites, invade todos os espaços possíveis, torna o ar embaçado e irrespirável. Quando a câmera foca na fumaça, você já fica alerta: o Smoking Man está por perto e, onde ele está, impera o sofrimento, o tormento, a aflição, a angústia, a peste, a doença, a morte. Ele é uma espécie de Darth Vader com um cigarro sempre aceso, definiu uma vez um dos diretores da série.
Na quarta temporada, há um episódio sensacional, Meditações sobre o Canceroso, que conta a origem desse personagem. Jovem capitão da Força Aérea americana, em 1962 ele é convocado pelos conspiradores da época, todos infiltrados no governo. Fazem um interrogatório onde mostram o currículo repleto de torpezas do homem e o convocam para uma missão, descrita assim: o assassinato de um civil americano, de 46 anos, antigo comandante da Marinha, casado, pai de dois filhos: o presidente John Kennedy.
O Smoking Man encontra Lee Oswald, que fuma. Ele manda essa: "Você não deveria fumar essas coisas, Lee. Estou lendo estudos que dizem que podem te matar". Perfeito, já que na década de 60 a indústria do tabaco escondia do público as pesquisas que associavam cigarro ao desenvolvimento de várias doenças, inclusive o câncer. Lee lhe entrega o maço de Morley que fumava. Vai para o depósito de livros e o resto entra para a história.
Missão cumprida, nosso anti-herói vai ao cinema, justamente onde Lee é encontrado pela polícia e, enquanto observa a prisão do bode expiatório, começa a fumar. Torna-se fumante compulsivo. Depois, ganha um passaporte para a clandestinidade, passando a atuar só nos bastidores.
Anos depois, é o responsável pelo assassinato de Martin Luther King, pela conspiração de Roswell, por centenas de abduções forjadas. Através de um dispositivo em tempo real, ele também é o primeiro a saber que Gorbatchov tinha desmantelado a União Soviética. Num diálogo extraordinário, tendo como cenário um laboratório secreto onde um alienígena capturado é mantido vivo através de um respirador, ele e um outro conspirador:
Smoking Man: Quantos fatos históricos só nós dois testemunhamos juntos? Quantas vezes nós fizemos ou mudamos a história? E nossos nomes nunca puderam aparecer em nenhum livro ou registro. Nunca fizeram um monumento a nós. E mais uma vez esta noite o curso da história da humanidade será decidido por dois homens desconhecidos que se escondem nas sombras.
O conspirador lhe dá uma arma e cita uma resolução que diz que o país que capturar um alienígena é obrigado a eliminá-lo.
Conspirador: Eu sou o mentiroso. Você é o assassino.
Smoking Man: Suas mentiras mataram mais homens em um dia do que eu matei em toda a vida. Eu nunca matei ninguém.
Pois é. Eu nunca matei ninguém, deve ser isso que pensam os nossos conspiradores, recentemente presos e/ou temendo pela prisão, eu imagino.
E como a fumaça do cigarro do Smoking Man, a lama metafórica de Brasília é tão real e assustadora, invasora, vai tomando todo o espaço, causa asfixia. Você sabe que algum mal vai causar. Uma lama tão antiga quanto o século 20, e que me faz pensar que é preciso enganar, iludir, ofuscar, uma das frases célebres de X-Files.
Nenhum comentário:
Postar um comentário