Nininha. Nininha.
Meio musicado. A última sílaba bem esticada.
Era assim que a minha mãe me acordava, todos os dias, para
eu ir para a escola. Ela vinha pela sala até meu quarto, me fazia um carinho na
cabeça e me sacudia, de leve, embora o leve dela fosse meio pesado. Filha de
alemã criada em colégio interno não dá moleza.
São sete horas, dizia. Mas já, minha resposta habitual. E eu me virava para o lado, me enroscava mais ainda debaixo do edredom.
Ela, então, puxava a coberta e calçava minhas meias. Movia
minhas pernas para fora da cama. Eu, um zumbi de pijamas. E me guiava até o banheiro.
E
quando eu voltava, a maior cara de sono do mundo porque nunca gostei de
acordar cedo, de uniforme, penteada e lavanda passada no pescoço, o café com
leite estava na caneca, o pão quentinho
tinha a manteiga derretida e era só eu engolir. O que dava trabalho, e ela falava anda, come
logo.
Era um ritual que se repetiu do primário – e aqui entrego a
minha idade – até o vestibular.
Nininha. Nininha. A
última sílaba esticada. E esse nunca foi meu apelido, era só o jeito de me despertar.
Ouvi
essa voz hoje. Queria que fosse a minha mãe, que de repente o mundo tivesse andado para
trás e eu fosse sacudida por ela para sair da cama, ela calçasse minhas meias
e a vida entrasse num eixo que se perdeu.
Doze anos que ela se foi. Hoje. Dezessete de novembro.
Para
homenageá-la, ouvi Outra Vez, com Roberto Carlos, a música favorita dela, que a
fazia ficar com os olhos cheios d’água, todos os anos, no especial do fim do
ano. E eu ria, dizia que ela era uma boba por chorar com Roberto.
A história se repete. Mas hoje sou eu quem choro.
Puxa ... não fazia idéia que já havia se passado tanto tempo assim... D. Lota, Ritoca, Tical... e sempre que passo pela Praça da Igreja me lembro da nossa infância passada ali.... muitas lembranças boas !!! Saudades desse tempo ! Bjs
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