Sam Mendes é um cineasta bastante interessante. Beleza Americana é uma de suas obras, presença incontestável na minha lista dos 10 melhores filmes da vida. Por isso, sempre que tem algum lançamento dele, eu assisto e geralmente gosto, mesmo que nenhum deles se aproxime da grandeza de American Beauty.
Away We Go foi seu último filme e chegou ao Brasil direto em DVD. Não é nenhuma obra-prima, mas vale a pena dar uma olhada. É um road movie, ao estilo de Estrada para Perdição, também dele, onde aproveita para dissecar aqueles ranços que estão lá atrás, em Beleza Americana. Um casal que está prestes a ter o primeiro filho resolve viajar pelo país, visitando cidades onde vivem parentes ou amigos, para decidirem onde vão se instalar e criar a nova família. Os laços com as pessoas são frustrantes. O casal descobre que ninguém é como parece ou como se lembravam. A memória de momentos de ternura com essas pessoas é quebrada logo de cara e isso é bacana à beça, porque a vida real é um pouco assim: as pessoas são legais num primeiro contato, mas às vezes, na convivência, se tornam chatas, egoístas, mesquinhas, seus pequenos problemas ou manias dominam uma parcela enorme da vida delas e contamina quem está perto. Enfim, quer saber? Estamos todos sós, por conta própria, abandonados à própria sorte - e decisões - e a amizade verdadeira é um lucro enorme. E escrevo isso sem qualquer melancolia ou tristeza. É fato.
Sam Mendes gosta de mostrar a American Way of Life sem o glamour e o charme de cidades símbolos dos Estados Unidos, como Nova York ou San Francisco e Los Angeles, suas lindas locações e programação fantástica. Suas histórias normalmente se passam naqueles lugares desprovidos de encanto, que se resumem a um downtown exatamente igual a qualquer outro e aos subúrbios, com suas casas lindas ou outras nem tanto, mas sempre padronizadas, onde os personagens são normais, ou seja, não fazem nada de interessante na vida, não são intelectuais, não vivem nas altas rodas, não frequentam óperas, não vão a exposições, não têm nada de cativante. São gente comum, que ganham o pão de cada dia com um trabalho medíocre, preocupados com a hipoteca da casa, a faculdade das crianças, o plano de saúde, a aposentadoria. É um mundo de Hommer Simpsons, só que sem graça ou ironia.
A melhor sequência do filme é com Maggie Gyllenhaal como uma hippie do século 21, com suas preocupações existenciais e espirituais para salvar a humanidade, mas totalmente voltada para o próprio umbigo, como costumam ser essas pessoas que se sentem tão especiais e numa harmonia tão grande com o universo: maçantes e pernósticas, absolutamente desinteressantes.
Alguns acharam Away We Go chato, mas ele mostra quão tediosa é a vida dos outros, especialmente no meião do mapa americano. Cabe a cada um de nós fazer nossa vida, no mínimo, um pouco legal.
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