sábado, 30 de janeiro de 2010
ONDE VIVEM OS MONSTROS
Onde vivem os monstros? Fiquei pensando em como responder a essa pergunta depois de assistir ao filme Onde Vivem os Monstros, de Spike Jonze, o diretor meio maluquinho de Adaptação e Quero ser John Malkovich.
Trata-se de uma história baseada em livro infantil, adaptada para as telas visando o público adulto, já que seus diálogos são bastante profundos e meio introspectivos demais para as crianças, mas com censura para maiores de 10 anos. Quando as luzes se acenderam, ouvi alguns meninos e meninas dizerem que não entenderam nada...
O filme conta a história de um menino criativo, Max, que com ciúmes de um namorado da mãe, tem uma crise de má-criação e, para evitar o castigo, foge de casa. Na fuga, descobre um mundo perdido, onde os monstros vivem.
São vários os monstros nessa terra desconhecida, todos bem feitos por computação gráfica e muito expressivos, mas Carol é o melhor deles, e não por acaso é com ele que Max mais se identifica. Dublado por James Gandolfini, o eterno e querido Tony Soprano, Carol, assim como Max, também se acha o centro do universo e traz a mesma impetuosidade dele. Um seria complemento do outro, sua forma de extravasar os pequenos monstros e superar as intempéries do dia-a-dia. Os demais monstros ganharam personalidades marcantes: tem o medroso-carente, a maternal, a agressiva, o melancólico, o solícito e por aí vai.
Em algum momento, Max usando uma coroa de rei e segurando um cetro me lembrou O Pequeno Príncipe. De alguma forma, Max também se tornou responsável por aqueles monstros que cativou. Ou cultivou, sabe-se lá.
Fiquei pensando na forma como, de vez em quando, soltamos os monstros que habitam essas terras menos desconhecidas e bem escondidas dentro de nós mesmos. De vez em quando eu encontro com alguns deles passeando por aí, cruzando meus caminhos, mal os cumprimento com medo de que dominem meu mundo quase perfeito cá fora.
E aí? Onde vivem os seus monstros?
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
MACONDO
Outro dia, fui à minha antiga faculdade. Entrar no prédio da Eco, a Escola de Comunicação da UFRJ, na Praia Vermelha, parece uma viagem sentimental. O piso de tábua corrida continua a ranger como fazia há duas décadas, quando estudei ali e, desconfio, como rilhava desde sua inauguração, no século XIX, como hospício.
Mudança, se houve, foi na área de secretaria, que ganhou algumas divisórias e uma refrigeração mais caprichada. As salas de aula permanecem iguais, as mesmas cadeiras duras com um braço, quadro negro e giz. Não verifiquei os banheiros, mas houve época em que não tinham nem água nem papel.
Aproveitei e passeei no campus. Alguns prédios novos foram erguidos, com vidro fumê e ar condicionado, mas os antigos, tombados, estão firmes e fortes, porém muito pouco conservados, como é característico com o patrimônio histórico aqui no Brasil. A piscina continua vazia e encardida, muito encardida.
Os gatos, que já eram muitos, se multiplicaram. Mas gato é bom, onde há gatos não há ratos, pelo menos não esses que rastejam, roem e entram em buracos mínimos. Com certeza, os ratos de outras espécies bem mais humanas sempre existiram e deverão existir eternamente. Ali,em Brasília e em todo lugar desse muy corrupto país.
O campus é bem arborizado, mas os frutos das árvores se derramam no chão com um odor peculiar de fruta-pão. Sempre foi assim.
No trecho final do campus, que faz fronteira com a rua Lauro Muller, fica o sujinho, bar cujo nome sintetiza seu espírito. As paredes são cobertas com pôsters de bandas e peças teatrais; as mesas, repletas de garrafas de cerveja. Um cheiro de bife e ovo frito no ar. No som, tocava Lulu Santos, com seu sucesso dos anos 80, Garota eu vou pra Califórnia...
O calor terrível desse dia abafado, a música e o perfume típico daquele campus me fizeram lembrar de Macondo, a cidade fictícia de Cem Anos de Solidão, onde sete gerações de uma família vivem uma saga, mas muito pouco muda a história.
A Eco é minha Macondo, um pequeno mundo que muito poucas voltas dá.
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